Tá Todo Mundo Tentando
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Tá todo mundo tentando: um dia, um gato, pt 4 (fim)
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Tá todo mundo tentando: um dia, um gato, pt 4 (fim)

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Para ler ouvindo: "Being Boring", do Pet Shop Boys — estou apostando aqui que você, jovem, já viu esse clipe, mas se nāo viu, favor ver agora, de nada :)

Se você não leu: aqui está a parte 1, parte 2 e parte 3

Pt 4

Quando chegou em casa, Lara demorou para pensar em procurar o gato.

Sabia que ele podia estar em qualquer lugar: atrás de quadros, debaixo de cobertas, dentro de armários ou onde quer que fosse o esconderijo da vez.

Confiando no bom senso felino, cumpriu sem preocupações suas atividades de humana: trocou a água suja do pote, colocou comida fresca, guardou compras do mercado, dobrou e guardou a roupas recém tirada da máquina de lavar.

Só quando deitou no sofá cheio de pêlo de bicho foi que o alarme interno tocou — estranho ele não ter aparecido ainda. Poderia estar preso em algum lugar? Arrancado alguma parte da tela de proteção das janelas? A porta estava fechada, tanto da frente quanto de trás. Janelas fechadas também. Olhou nas gavetas, debaixo dos móveis, atrás dos quadros no chão, nos armários da cozinha. Fez barulho, distribuiu petiscos em formato de peixinhos, que ele gostava tanto.

Nada.

Como pode um gato desaparecer em um apartamento fechado?

Nessa noite Lara nem dormiu, esperando ouvir algum ruído indicar a presença de Luca. Às seis da manhã estava interfonando para o síndico perguntando se alguém tinha reclamado de um gato solto no prédio. Não, mas ela já tinha procurado um buraco? Prédio velho tem rato e às vezes, né, dá buraco.

Saiu procurando desesperada e em dois minutos estava ligando de volta — sim, tinha buraco, ele sabia pra onde ia? Era melhor chamar a desratização.

O profissional dos ratos chegou pontualmente às nove. “Tudo cheio de rato aí, dona. Não adianta cuidar de um apartamento só. O condomínio que precisa fazer a manutenção semestral.”

Lara explicou que o problema era outro: seu gato tinha entrado para dentro da parede. O moço fez cara de quem ia rir, mas ela insistiu. É a única explicação. Ele não pode ter evaporado. Tem um buraco e ele passou. “E a senhora vai fazer o quê, vai entrar na parede atrás do bicho?”

Lara quis responder que, sim, se preciso fosse, iria. Mas não. Sentou no quartinho e ficou ali , incrédula. Como é possível que acabe assim. Num buraco.

O moço tentou explicar: ele foi atrás dos ratos pra caçar.

Dava pra sair do prédio por ali? Com certeza, ele poderia descer os andares por dentro da estrutura até chegar na garagem, sem ninguém ver, mas também poderia subir e sair no terraço, poderia acabar circulando pelas escadas de incêndio. Qualquer coisa era possível.

E como é que faz pra ele voltar?

Não faz. Espera. Sabe como é gato. Eles se viram.

Lara agradeceu e começou a pensar em termos práticos. Usou uma foto do gato pra fazer um pequeno cartaz que colocou nos dois elevadores e na portaria, sob olhares penosos do porteiro. E passou a vigiar a área de entrada do prédio pela janela, como uma velha de cidade do interior.

Alegou uma gripe e não foi trabalhar. Nem hoje, nem amanhã, depois vinha o fim de semana. Luca tinha até segunda.  Mas ela sabia que uma vez fora de casa, gatos podem estar em qualquer lugar. Normalmente, por vontade própria. Lara pensava que, se quisesse, Luca um dia iria achar o caminho de volta. E talvez ele não quisesse.

Os dias passaram devagar, com Lara montando guarda com comida fresca e psit-psit pra dentro do buraco. E quando a segunda-feira chegou, não teve jeito: foi trabalhar.

Deixando, antes, como sinal, um pote de ração fresca no lugar de sempre.

Só em caso dele sentir fome.

por Tiago Lacerda @elcerdo

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